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Entrevista | Gen Verde: 50 anos de música para o International Performing Arts Group

De um presente de Natal, uma bateria verde, nasceu um dos grupos mais importantes para a música de inspiração cristã: o Gen Verde International Performing Arts Group, um grupo feminino com 20 artistas de 14 países diferentes (com concertos em Portugal em abril e maio de 2019).  Eis aqui a entrevista que deram ao Blog della Musica

Olá Gen Verde e muito bem-vindo ao “Blog della Musica”. Algumas palavras para vos apresentar àqueles que ainda não vos conhecem…

Olá! Somos o grupo internacional Gen Verde, ao todo 21 artistas de 14 países diferentes. A nossa sede é em Itália, em Loppiano (perto de Florença), mas fazemos muitas viagens ao exterior com projetos dedicados aos jovens, para além dos nossos espetáculos. Agora estamos no estúdio de composição, onde trabalhamos nós as três que vos estamos a falar: Colomba Bai, da Coréia, Jamaica Lyra, do Brasil, e Nancy Uelmen, dos EUA.

O Gen Verde tem quase 50 anos de atividade musical: desde o início até hoje, como mudou o grupo e a sua abordagem musical?

Nancy: Tudo começou em dezembro de 1966 com um presente de Natal a grupo de raparigas: uma bateria verde, que depois se tornou o símbolo do poderoso meio em que a música e as artes, em geral, podem ser para construir a paz, para criar diálogo, para construir um mundo mais fraterno. Eram anos de grande mudança social e aquelas raparigas queriam levar a revolução do amor baseada no Evangelho vivido. Ao longo dos anos, os elementos do grupo mudaram, mas o espírito permanece o mesmo.

Colomba: Sendo de muitos países diferentes, a riqueza da nossa diversidade cultural influenciou fortemente a abordagem à música, e esta continua uma característica nossa até hoje. Mas é claro que, com o tempo, desenvolveu-se… Assim, há alguns anos, sentimos a necessidade de nos aproximarmos mais do mundo dos jovens, com todas as suas belezas e desafios. Tanto os temas abordados nas canções como abordagem musical deveriam refletir essa escolha. Isso significava às vezes sair da nossa “zona de conforto” para compor estilos musicais novos para nós. É claro que, para que isso seja possível, temos de nos atualizar continuamente, para não nos fossilizarmos em certos clichês e, ao mesmo tempo, permanecermos nós mesmas.

Jamaica: Como consequência, um desenvolvimento importante nos últimos anos tem sido o projeto “Start Now”: um programa de 5 dias no qual oferecemos várias oficinas de canto, dança, teatro e percussão, preparando os jovens a realizar connosco algumas partes do concerto final. Fizemos isso em muitos países diferentes – incluindo da América Central e da Ásia, onde os jovens eram também de diferentes religiões – e esta experiência dá-nos a oportunidade de trabalhar lado a lado com eles. É um grande enriquecimento para nós, também como artistas, e influi muito sobre o que compomos.

A originalidade do grupo musical também é dada pelo fato de ser só feminino. Este tipo de formação influência o modo de compor e de escrever?

Colomba: Eu diria que sim. Se o “feminino” contêm talentos particulares como o acolhimento, a escuta e a capacidade de ir em profundidade , essas são características que nos dão certa vantagem quando escrevemos e compomos, tanto individualmente quanto juntas. A capacidade de receber aqueles que são diferentes de mim não significa não ter a minha ideia ou opinião; na verdade, cada uma deve ter sua própria ideia muito clara. Mas estar disponível para os outros, aceitando as suas sugestões e conselhos, é muito importante no processo de compor e escrever textos. Pessoalmente notei que isso me permite melhorar sempre e ajuda-me a abrir os horizontes do meu ponto de vista. De fato, quando se consegue trabalhar deste modo (inspiração – confronto – “escavar” dentro e voltar a dar), nasce muitíssima criatividade e contribui muitíssimo para o nosso crescimento humano.

Até mesmo a capacidade de ir em profundidade nos ajuda a não permanecermos superficiais, onde há o risco de escrever apenas para produzir belas palavras ou músicas cativantes. O desejo de ir mais além estimula-nos a fazer emergir a “verdade” do nosso ser, da nossa vida e doá-la aos outros. Quando fazemos isso, vejo que melhora a qualidade da música que escrevemos, torna-a mais autêntica.

Nunca sentiram a necessidade de se comparar musicalmente com outras realidades artísticas?

Nancy: Claro! Comparar-nos musicalmente com os outros faz-nos crescer, enriquece-nos, convida-nos a melhorar e a evoluir. Ouvimos atentamente o que outras realidades artísticas fazem, especialmente se elas são capazes de transmitir coisas que consideramos verdadeiras e profundas, além disso há sempre muito a aprender de todas as culturas. Durante as nossas viagens e no contexto de eventos internacionais (como a JMJ no Panamá, na qual participámos), há muitas oportunidades para aprender e dialogar com outros artistas.

E sentimos a necessidade não apenas de nos confrontarmos musicalmente mas, também, de colaborar com os outros. Isso abre os nossos horizontes. Em Loppiano, a cidadela internacional onde vivemos, há muitas oportunidades neste sentido, porque vêm pessoas de todo o mundo, incluindo artistas. Por exemplo, para uma das nossas últimas faixas do álbum, This Is Our Name, tivemos a oportunidade de trabalhar com um jovem violinista da Argélia, Rassim. Ele é muçulmano. Trabalhar com ele foi uma oportunidade para aprender mais sobre sua história, cultura e compartilhar também a nossa experiência com ele.

Vamos falar sobre o vosso último álbum From the Inside Outside, como nasceu e o que quer transmitir ao público que o ouvirá?

Jamaica: Para poder explicar o novo álbum, é preciso começar com o anterior (2015), intitulado On the Other Side (que significa “do outro lado”). É um convite para ver o mundo do ponto de vista do outro. Para as músicas desse álbum, inspiramo-nos nas nossas histórias e experiências, tanto para as letras como para as músicas. A base é pop-rock, mas em muitos trechos sentem-se os traços étnicos de nossas várias culturas. São canções nas 5 línguas que falamos no grupo.

A reação do nosso público foi muito positiva: apresentámos o On the Other Side em concerto, em muitos países europeus e asiáticos e em todos foram muitas pessoas que nos disseram terem ficado impressionadas pela autenticidade da vida vivida que encontraram expressa nas canções. Também notaram que a música destacava as características de cada uma de nós com a sua cultura e que, ao mesmo tempo, fazia sobressair o todo. Por isso, na preparação do novo álbum, quisemos manter essas características.

Nancy: Mas em From the Inside Outside também há novidades. A nossa experiência recente de trabalho com os jovens de diferentes partes do mundo deixou-nos um ensinamento profundo. Ficaram no nosso coração as suas belezas e os seus talentos, mas também as suas vulnerabilidades: os medos do futuro, dependências e inseguranças, a falta de autoestima. Na realidade, hoje todos nós precisamos de uma injeção de esperança. Assim, desta vez, quisemos concentrar-nos na descoberta da força que cada pessoa traz consigo, no grande potencial que cada um de nós possui para acender a luz que traz dentro de si e sair de nós mesmos para fora, para construir a paz. Ver o impacto deste percurso nos jovens, nestas últimas tournées do novo espetáculo, em Inglaterra e em vários países da América Latina foi, muitas vezes, surpreendente e muito encorajador.

Em relação às nossas escolhas musicais, sentimos muito a necessidade de alcançar e encontrar os jovens lá onde eles estão. Então, desta vez, pode-se sentir mais a influência da eletrônica, que hoje se ouve muito nas suas playlists. Vamos do K-pop ao pop-rock e ao pop latino, como o reggaeton… e ouvirão mais rap- há até um trecho em estilo trap. E naturalmente em muitos trechos ouvir-se-á um toque étnico, que recentemente se tornou a nossa assinatura.

Para aqueles que vos acompanham durante os vossos espetáculos como será transposto este álbum para uma versão live?

Colomba: na verdade já começámos o novo concerto nas últimas tournées, com todas as canções do novo álbum. Para algumas faixas foi um verdadeiro desafio preparar a versão live. O nosso espetáculo anterior era mais rock e, portanto, mais fácil de levar para o palco. Agora, no entanto, várias faixas têm um groove que depende muito mais dos elementos eletrónicos. Agora a bateria acústica combina-se com pad eletrónico e há alguns loops extras para certos grooves. Também para as partes do teclado foi necessário fazer um estudo mais profundo dos sons: agora usamos principalmente sons virtuais também nas apresentações live. Mesmo nas nossas coreografias sente-se uma nova energia, que surge destas inovações musicais.

Um dos vossos discos passados que mais me impressionou pela sua beleza, não apenas musical, mas sobretudo textual, é Il Mistero Pasquale, um trabalho litúrgico de alto nível, um desses registos que “quanto mais se ouve, mais se descobre”, podem dizer-nos algo do período de escrita e preparação desse álbum?

Nancy: Obrigado por este comentário, ficamos muito satisfeitas! Eu fazia parte da equipe de composição desse projeto e a experiência ficou marcada como um momento em que podemos ir em profundidade espiritualmente, também com o nosso trabalho. Eu aprendi muitíssimo. Desde há muitos ano que, para os nossos projetos litúrgicos, temos colaborado com Pierangelo Sequeri, um respeitado compositor e teólogo neste campo. Nos estágios iniciais deste projeto ele ajudou-nos a descobrir toda a beleza que caracteriza a liturgia específica de cada parte do Tríduo Pascal.

Cabe a nós músicos extrair e fazer emergir nas nossas composições aquela “partitura invisível” que já está presente em cada parte da liturgia e, assim, ajudar aqueles que participam, a entrar dentro e fazer uma experiência de verdadeira oração, com toda a comunidade. Assim, a atmosfera de cada parte desperta as escolhas musicais e os textos. Em relação à Quinta-feira Santa, à volta da mesa da última ceia, o Evangelho sugere um clima criado pela incerteza dos discípulos e pela ameaça de traição, e ao mesmo tempo há grandes sinais do incomensurável amor de Jesus. Para expressar esta atmosfera na música, para esta liturgia, usamos mais contrastes e tensões em harmonia. Por outro lado, na sexta-feira santa, a música é muito mais nua, intensa e escavada. Finalmente, o da Vigília Pascal é um crescendo de profunda alegria.

Haverá algo parecido para o período de Natal?

Nancy: É uma ideia que consideramos, e quem sabe, talvez no futuro! Mas talvez não seja um projeto estritamente litúrgico… estamos a pensar nisso. Por enquanto estamos a concentrar-nos mais no repertório pop.

Para fechar esta breve conversa, perguntamos quais serão os vossos próximos projetos artísticos.

Jamaica: Acabámos de concluir um grande projeto com o último álbum e concerto. Depois partimos imediatamente para as grandes tournées. Só agora vamos começar a pensar nos próximos projetos artísticos. Uma coisa que gostaríamos de fazer é renovar o nosso concerto acústico (onde produzimos versões mais nuas das músicas, com uma atmosfera mais simples e intimista do que o grande concerto e que nos permita tocar também em salas mais pequenas). Além do grande espetáculo, temos oferecido um concerto deste tipo há alguns anos, mas queremos enriquecê-lo com as músicas do último álbum.

Talvez este ano nasçam também algumas canções novas, pensando especificamente nas temáticas que tocam mais de perto as pessoas dos lugares aonde iremos (por exemplo Portugal e Alemanha este ano e no próximo ano, esperemos, os EUA e o Canadá). Sonhamos voltar ao Brasil, depois de tantos anos, e também visitar muitos dos outros países da América latina que não conseguimos visitar da última vez.

No entanto, se quiserem saber como será, podem seguir-nos no nosso site www.genverde.it e no Facebook e Instagram, onde publicamos todas as novidades! Podem também encontrar as nossas músicas no Spotify e nas outras plataformas de streaming.

Fonte: Blog della Musica