«Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor». (1Jo 4,8)
A primeira carta de João é dirigida aos cristãos de uma comunidade da Ásia Menor para os encorajar a restabelecer a comunhão entre eles, pois estavam divididos por divergências doutrinais. O autor exorta-os a terem presente o que foi proclamado “desde o princípio” pela pregação cristã. Recorda aquilo que os primeiros discípulos viram, ouviram e tocaram com as suas mãos na convivência com o Senhor, para que também esta comunidade pudesse estar em comunhão com eles e, consequentemente, também com Jesus e com o Pai[1].
«Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor».
Para recordar a essência da revelação recebida, o autor sublinha que, em Jesus, Deus tomou a iniciativa de nos amar, assumindo totalmente a existência humana, com todos os seus limites e as suas fraquezas.
Na cruz, Jesus partilhou e experimentou pessoalmente a nossa separação do Pai. Dando-se completamente, resgatou-a com um amor sem limites nem condições. Demonstrou-nos a medida do amor, que já nos tinha ensinado com palavras e com a vida.
Pelo exemplo de Jesus, compreendemos que amar verdadeiramente implica coragem, esforço e o risco de termos que enfrentar contrariedades e sofrimentos. Mas quem ama assim participa da vida de Deus e experimenta a Sua liberdade e a alegria de quem se dá.
Amando como Jesus nos amou, libertamo-nos do egoísmo que impede a comunhão com os irmãos e com Deus. Podemos, assim, experimentá-la.
«Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor».
Conhecer Deus – Aquele que nos criou, que nos conhece e conhece a verdade mais profunda de todas as coisas – é, desde sempre, um anseio do coração humano, mesmo se inconsciente.
Se Ele é amor, podemos vislumbrar algo desta verdade quando amamos como Ele. Podemos crescer no conhecimento de Deus, porque vivemos essencialmente a Sua vida e caminhamos à Sua luz.
E isso realiza-se plenamente quando o amor é recíproco. De facto, se nos amarmos uns aos outros, «Deus permanece em nós»[2]. Acontece como quando os dois polos elétricos se tocam e a luz se acende, iluminando tudo à nossa volta.
«Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor»
Testemunhar que Deus é amor, afirma Chiara Lubich, é «a grande revolução que somos chamados a oferecer hoje ao mundo moderno, em tensão extrema», tal «como os primeiros cristãos a apresentavam ao mundo pagão daquele tempo»[3].
Como fazê-lo? Como viver este amor que vem de Deus? Aprendendo com o Seu Filho a colocá-lo em prática, especialmente «[…] no serviço aos irmãos, sobretudo aqueles que estão ao nosso lado, começando pelas pequenas coisas, pelos serviços mais humildes. Esforçar-nos-emos, à imitação de Jesus, por tomar a iniciativa de os amar, no desapego de nós mesmos e abraçando todas as cruzes, pequenas ou grandes, que tudo isso possa comportar.
Deste modo não tardaremos, também nós, a chegar àquela experiência de Deus, àquela comunhão com Ele, àquela plenitude de luz, de paz e de alegria interior, a que Jesus nos quer conduzir»[4].
«Quem não ama não conheceu Deus, porque Deus é amor».
Santa Scorese[5] costumava visitar regularmente o lar de idosos de uma instituição católica. «Um dia, com a Roberta, encontraram o Sr. Aldo, um homem alto, muito culto e rico. O Sr. Aldo fixou as duas jovens com um olhar sombrio: “Porque é que vêm aqui? O que querem de nós? Deixem-nos morrer em paz!”. Santa não desanimou e disse-lhe: “Viemos aqui por si, para vivermos umas horas juntos, para nos conhecermos e nos tornarmos amigos”. […] Voltaram outras vezes. Conta-nos a Roberta: “Aquele senhor era muito reservado, muito abatido. Não acreditava em Deus. Santa foi a única que conseguiu entrar no seu coração, com muita delicadeza, escutando-o durante horas”». Rezava por ele e, uma vez, ofereceu-lhe um terço, que ele aceitou. «Santa soube depois que ele tinha falecido pronunciando o nome dela. A dor pela sua morte foi atenuada pelo facto de ele ter morrido serenamente, tendo nas mãos o terço que ela lhe tinha oferecido»[6].
Texto preparado por Silvano Malini e pela equipa da Palavra de Vida
[1] Cf. 1Jo 1,1-3. [2] Cf. 1Jo 4,12. [3] C. Lubich. Conversazioni, org. M. Vandeleene (Opere di Chiara Lubich 8/1), Città Nuova, Roma 2019, p. 142. [4] C. Lubich, Palavra de Vida de maio de 1991, in Parole di Vita, org. Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p. 477. [5] Experiência da Serva de Deus Santa Scorese, jovem italiana que foi assassinada em 1991, quando tinha 23 anos, de quem está em curso o processo de beatificação. [6] P. Lubrano, Un volo sempre più alto. La vita di Santa Scorese, Città Nuova, Roma 2003, pp. 83-84,107.