Comunidades

Uma flor entre as rochas: uma centelha na comunidade de Faro

Tudo começou de uma “centelha” de unidade entre quem se empenha, sem medida, na Pastoral sócio-caritativa e o Focolar de Faro, diante da necessidade que surgiu de encontrar uma pessoa para integrar a equipa da Pastoral Prisional. 

“Bem cientes da nossa pequenez, mas fortes na unidade, decidimos avançar.” – conta uma das pessoas que integrou o grupo e que, há quase um ano, começou como uma “célula de Unidade” nestas duas vertentes. Foram muitas as ocasiões para colaborar, que incluiu a procura de presentes de Natal para os filhos dos detidos.

Todas as semanas a equipa da Pastoral Prisional, constituída por cinco pessoas, visitou o Estabelecimento Prisional de Faro, alternando-se, mas garantindo que fosse sempre possível irem dois ou três elementos. Procurou centrar esta ação não apenas nos detidos, mas também em todos os que lá vivem ou trabalham. As temáticas e materiais escolhidos para estas visitas foram a Palavra de Vida, a Revista Cidade Nova, o jornal diocesano local e outros artigos que sublinhassem valores humanos.

Escreve um dos participantes deste grupo de visitantes: “O nosso sonho, essencialmente, é que seja Jesus presente onde dois ou mais estão unidos no Seu nome, a proporcionar uma lufada de ar puro, manter em todos os detidos a esperança de poder – um dia – voltar a “voar” e crescer num relacionamento construtivo com os educadores e guardas. Partilhamos a vontade de dar sempre o melhor, pessoalmente e como equipa.”

A atmosfera que encontravam, por vezes, era de grande pessimismo, desânimo, critica contra a estrutura, os guardas, o governo, a família que tiveram e o mundo. Contam: “Saímos de lá como se tivéssemos “descarregado um navio”, mas, sempre com mais vontade de voltar e mais empenho para dar algo mais, que pudesse indicar uma luz, ao fundo do túnel.”

A experiência de unidade cresceu também entre o grupo de visitantes, com telefonemas e mensagens que vão para além deste empenho específico. “É esta unidade que nos dá a luz para o passo a seguir. Nada mais.” – referem.

Um momento privilegiado deste percurso aconteceu no dia 18 de Fevereiro, com a visita à cidade e, também, ao Estabelecimento Prisinal, do Bispo de Faro. Uma ocasião para se aumentar a profundidade, conhecer anseios, perguntas e sonhos dos detidos! “Juntos constrói-se algo, surgem ideias, algumas com êxito.” – comenta o grupo. A pedido dos reclusos, participou neste momento também o Presidente da Câmara. Estavam presentes cerca de umas quarenta pessoas, entre director, funcionários e detidos, alguns dos quais não costumavam participar nestas atividades.

No grupo dos participantes frequentes, um dia, o L. confidencia: “ O que é mais importante é o perdão de Deus. Quanto mais leio a Bíblia, tanto mais vejo que Deus está em tudo.” O seu papel no Estabelecimento era o de Bibliotecário. Estava sempre actualizado, mas este facto provocava nele ainda mais tristeza e uma acrescida sensibilidade à injustiça. Quando soube, por exemplo, que uns detidos, doutro estabelecimento, tinham sido requisitados para trabalhos externos. Tinha a sensação que Faro estivesse como que esquecido. Na visita do Bispo de Faro e do Presidente da Câmara apresentou-se e, quando foi aberto o diálogo, L., ponderadamente, perguntou ao Presidente da Câmara, qual a possibilidade de fazer um trabalho socialmente útil. Noutra vez desabafou: “Nós que participamos nestas reuniões somos gozados. Perguntam: “Já se confessou? Vem mais santo? E uma vez o guarda, depois da reunião fez-nos despir para ver se tínhamos recebido algo. Foi para nós uma humilhação.” A seguir à visita pastoral, as impressões que disseram, sublinham a sensação de FAMÍLIA, Fraternidade. Afirmaram: “Senti-me bem… Todos precisavam de estar cá! … Foi uma reaproximação das autoridades ao estabelecimento,  que já não se realizava há muitos anos… É louvável. Penso, porém, que não se deu o relevo que merecia. Era preciso que isto acontecesse com mais condições. ”E L. acrescentou: “COMUNHÃO é a palavra que me surge. Também porque estava um muçulmano e um evangélico e gostaram.”

E chegou a pandemia e foram canceladas as visitas. A equipa de visitantes passou a enviar ao director do Estabelecimento Prisional e-mail’s, assegurando a oração e a unidade à distância, nesta fase tão delicada e complexa. O diretor agradeceu o conforto espiritual.  Chegou, depois, a aprovação do Parlamento para o indulto. “Rezamos incessantemente para que encontrassem “um novo caminho.” – conta a equipa, e continuam:  “…qual não foi a nossa alegria, nestes dias! Um elemento da nossa equipa recebeu um telefonema de L. Estava em liberdade e queria enviar um abraço a todos nós.  Um sinal de GRATIDÃO inesperado. E não só! Tinha duas caixas de fruta e perguntava como podia fazer para as oferecer a quem estivesse necessitado.”  Organizou-se a entrega. A Paroquia de S. Pedro no Centro sociocaritativo disponibilizou-se para a distribuição da fruta pelos pontos de ajuda regulares, que fazem, e para as novas famílias carenciadas, vitimas desta crise. O senhor L. apareceu e trouxe não 2, mas 4 grandes caixas de fruta fresca. Pediu para guardar as caixas, porque queria continuar com as doações. 

A equipa de visitantes do estabelecimento prisional de Faro acrescenta ainda: “Como não ver o dedo de Deus que faz desabrochar flores entre as rochas? Lembramos a passagem de Lucas 8, 47*: “lhe são perdoados os seus muitos pecados porque muito amou 1.”

*Bíblia Sagrada – Difusora bíblica (Missionários Capuchinhos) 1976