Cidadela Comunidades

O amor é contagioso

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A crise humanitária que nos últimos anos se agravou no Médio Oriente, gerou um enorme fluxo de refugiados para a Europa. A Cidadela Arco-Íris, em colaboração com a AMU, disponibilizou-se, no ano passado, para acolher alguns destes refugiados, tendo-se gerado, afim de viabilizar este acolhimento, uma corrente de comunhão de bens em todo o país, entre os membros do Movimento dos Focolares e não só. Equipou-se uma casa, chegaram roupas, brinquedos… Depois, soube-se que afinal as pessoas previstas para acolher, afinal já não vinham. Deste momento conta um dos habitantes da Cidadela: “Naquele momento parecia que era algo sem sentido. Tanta generosidade para nada. Foi uma reação humana que imediatamente se esvaneceu, pensando que aquela amorosa generosidade de tantos teria outros destinatários. Como exprime bem a sabedoria popular ao dizer para “fazer o bem sem olhar a quem”.

A Humanidade neste século XXI, que em várias circunstâncias ainda teima em não se desenvencilhar das amarras da mesquinhez, do ódio, da incapacidade de olhar o outro – pessoa, povo, etnia ou nação – com olhos de fraternidade, viu, para espanto de muitos, o inimaginável acontecer na Ucrânia.

Na Cidadela Arco-Íris, referem os habitantes: “Diante deste flagelo vimos tanta gente despertar da letargia e uma nova consciência de solidariedade ganhou vida. Não foi difícil pensar que aquelas instalações antes preparadas podiam agora ‘entrar’ ao serviço. De novo a disponibilidade fazia sentido para receber alguém da Ucrânia.”

A generosidade de uma família do movimento fê-los meter os pés a caminho e organizar uma ida à Polonia, numa caravana com vários carros e em sinergia com outras organizações, para levar bens e ir buscar famílias de refugiados que necessitavam vir para Portugal. Estas pessoas que chegaram, tinham na Cidadela já um espaço pronto, um acolhimento, uma vontade dos que vivem na Cidadela de com elas ser família.

À Cidadela chegou inicialmente uma família e mais tarde outras duas, uma avó, três mães e 8 crianças/adolescentes.   As crianças e os adolescentes já estão a frequentar a escola.  A Câmara Municipal tem apoiado com alguns alimentos, além de lençóis e toalhas.  Logo após a chegada destas pessoas, um grupo de ucranianos que já vivem em Portugal há algum tempo, foram envolvidos num momento de acolhimento que se fez na Cidadela, sendo pontes, facilitadores que aligeiram as dores e ajudaram na interação e integração. Um dos participantes deste momento refere: “De facto, o amor é contagioso.” E continua: “É uma experiência muito forte acolher estas pessoas, fazendo nossos os seus sofrimentos e incertezas, como aconteceu num destes últimos domingos quando souberam que na cidade onde viviam tinham caído três bombas e os maridos por lá continuam, juntamente com outros familiares. Agora estamos diante do desafio de encontrar trabalho para as pessoas adultas.”

Outro habitante da Cidadela comenta: “Quando numa destas manhãs vi que o pensamento do “Passa-Palavra”, uma palavra ou frase que fazemos circular entre nós no Movimento dos Focolares, para nos ajudar a sintonizar esse dia no amor e na unidade, dizia nesse dia para “ousar perdoar”, li com cuidado a explicação, gostei e pensei: “tenho que começar por mim… como vou viver isto? Quantas oportunidades! Pensei que, como gostei, podia também partilhar com as nossas amigas ucranianas que estão aqui na Cidadela, para o vivermos juntas. Pouco a pouco estas famílias começam a conhecer a nossa vida e os momentos concretos de amor recíproco são muitos, como aconteceu, por exemplo, na Páscoa Ortodoxa, celebrada uma semana depois da nossa Páscoa Católica. Nesse dia prepararam para toda a Cidadela, com tanto amor, um maravilhoso almoço, com as melhores iguarias e, no final, um presente para toda a Cidadela:  Ofereceram um ótimo grelhador, trazido por outra família ucraniana que já reside e trabalha cá há algum tempo, pois tinha reparado que o que tínhamos já estava velho e ferrugento!”

A presença das famílias ucranianas na Cidadela, mais do que apoio e assistência à situação de refugiados, reveste-se sobretudo de relacionamento e vida entre as pessoas, como contam: “A dificuldade da língua é enorme e, às vezes, é difícil falar do que vivem, mesmo se os nossos corações se encontram. Lembrei-me de pedir a uma focolarina que se encontra na Croácia, para me enviava o “Passa-Palavra” em Ucraniano e, dois minutos depois, não só tinha o “Passa-Palavra”, mas também a Palavra de Vida. Escrevi a cada uma com entusiasmo. Depois, ao ler as várias respostas, cresceu ainda mais em mim a força e, sobretudo, sentia-me mais próxima da dor que cada uma vive, com a certeza que vivemos umas pelas outras.”

Estes e outros gestos transformaram-se numa forte corrente de amor verdadeiro, onde as respostas de agradecimento destas famílias alojadas na Cidadela são verdadeiramente comoventes, como por exemplo: “com Deus podemos superar tudo, obrigada pelo apoio que recebemos” e “só o amor poderá salvar o mundo, são sempre palavras tão importantes, obrigada.” 

E, de quem já estava na Cidadela e recebeu estas famílias, ouve-se dizer: “Faz-nos ser ainda mais família! Cada mensagem que recebo todos os dias em resposta ao “Passa-Palavra” aquece o coração e alarga os horizontes do meu amar! Amar para além de tudo! Partilhar os porquês mais profundos e os sofrimentos pelas ofensas que neste momento a humanidade recebe! Creio que juntos nos lançámos a viver noutra dimensão… a do amor. Aprendi muito! A Cidadela enriqueceu-se, encheu-se de vida e a esperança reina, além do sofrimento, nos nossos corações.”