Palavra de Vida – dezembro 2022

Em áudio e em pdf texto – teens

“Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene” (Is 26, 4)

A Palavra de vida que queremos viver neste mês é tirada do Livro do profeta Isaías, um texto vasto e rico, muito estimado pela tradição cristã. Esse livro, de facto, contém passagens muito conhecidas, como o anúncio do Emanuel, “o Deus connosco”[1], ou também a figura do Servo sofredor[2] que aparece como pano de fundo nas narrações da paixão e morte de Jesus. 

Este versículo é parte de um canto de ação de graças que o profeta coloca na boca do povo de Israel, quando, depois de ter superado a terrível prova do exílio, se preparava para finalmente regressar a Jerusalém. As suas palavras abrem os corações à esperança, porque Deus está fielmente presente ao lado de Israel, inabalável como a rocha. Ele próprio apoiará todos os esforços do povo na reconstrução civil, política e religiosa. 

Enquanto a cidade que se julga “excelsa” será arrasada até ao chão[3] – porque não foi construída de acordo com o projeto de amor de Deus -, a que foi construída sobre a rocha da Sua proximidade desfrutará de paz e prosperidade.

Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene”

Como é atual esta necessidade de estabilidade e de paz! Também nós, pessoal e coletivamente, estamos a atravessar momentos obscuros da história, que ameaçam esmagar-nos sob o peso da incerteza e do medo pelo futuro. 

O que fazer para superar a tentação de nos deixarmos abater pelas dificuldades deste tempo, fechando-nos em nós mesmos e cultivando sentimentos de suspeição e de desconfiança em relação aos outros? 

Como cristãos, a resposta é certamente “reconstruir” com coragem, acima de tudo, a relação de confiança com Deus, que em Jesus se tornou nosso próximo nos caminhos da vida, mesmo naqueles mais escuros, apertados, tortuosos e íngremes.

Entretanto, esta fé não significa ficar numa atitude passiva de espera. Pelo contrário, implica agir, tornarmo-nos protagonistas criativos e responsáveis na construção de uma “cidade nova”, alicerçada no mandamento do amor recíproco. Uma cidade com as portas abertas, acolhedoras para todos, sobretudo para “os pobres e os oprimidos”[4], que são desde sempre os prediletos do Senhor. 

Por este caminho, sabemos que vamos encontrar, como companheiros, muitos homens e mulheres que cultivam como nós os valores universais da solidariedade e da dignidade de cada pessoa no respeito pela Criação, a nossa “casa comum”.

Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene

Na aldeia espanhola de Aljucer, toda a comunidade está comprometida em construir relacionamentos de fraternidade através de formas de participação aberta e inclusiva. 

Contam: «No verão de 2008 iniciámos uma associação cultural com o objetivo de desenvolver diversas atividades, umas por iniciativa nossa e outras em colaboração com várias associações locais, para promover espaços de diálogo e projetos humanitários internacionais. 

Por exemplo, desde o primeiro ano promovemos um jantar anual solidário para o projeto Fraternity with Africa, destinado a financiar bolsas de estudo para jovens africanos que se comprometam a trabalhar no seu país durante pelo menos cinco anos. São jantares que reúnem cerca de duzentas pessoas, contando com a colaboração de comerciantes e associações. 

Estamos muito contentes por trabalhar já há alguns anos com outra associação. Com eles organizamos um evento anual aberto a personalidades do mundo da cultura, música, pintura e literatura, tal como representantes do mundo da política, da economia e da medicina. É a ocasião para todos eles partilharem experiências de vida e as motivações mais profundas das suas escolhas”[5].

Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene

Aproxima-se o Natal. Preparemo-nos para ele, acolhendo desde já Jesus na sua Palavra. É a rocha sobre a qual é preciso construir também a cidade dos homens: «Temos de encarná-la, fazê-la nossa, experimentar a força vital que ela, se for vivida, suscita em nós e ao nosso redor. Apaixonemo-nos pelo Evangelho ao ponto de nos deixarmos transformar por ele e de o fazermos transbordar para os outros. […] Já não seremos nós a viver, será Cristo a formar-se em nós. Experimentaremos a verdadeira liberdade em relação a nós próprios, aos nossos limites, às nossas escravidões. Mais ainda, veremos desencadear a revolução de amor que Jesus, vivendo em nós, vai provocar no tecido social em que estamos inseridos»[6] .

Letizia Magri

[1] Cf. Is 7,14 e Mt 1,23. [2] Cf. Is 52,13-53,12 [3] Cf. Is 26,5. [4] Cf. Is 26,6. [5] Experiência extraída do site www.focolare.org [6] C. Lubich, Palavra de Vida de settembro de 2006, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, p.790.