«Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo». (Jo 21,17)
O último capítulo do Evangelho de João leva-nos até à Galileia, ao lago de Tiberíades. Pedro, João e outros discípulos, depois da morte de Jesus, voltaram ao trabalho de pescadores, mas aquela noite tinha sido particularmente infrutífera.
O Ressuscitado manifesta-se ali, pela terceira vez. Exorta-os a lançar novamente as redes e, desta vez, apanham muitos peixes. Depois, na margem, convida-os a partilhar o alimento. Pedro e os outros tinham-No reconhecido, mas não ousavam dirigir-Lhe a palavra.
Jesus toma a iniciativa e dirige-se a Pedro com uma pergunta muito exigente: “Simão, filho de Jonas, tu amas-me mais do que estes?” O momento é solene: por três vezes Jesus renova o chamamento de Pedro[1] para que cuide das suas ovelhas, das quais Ele mesmo é o Pastor[2].
«Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo»
Contudo, Pedro reconhece que tinha traído Jesus e essa trágica experiência não lhe permitia responder de forma direta e afirmativa à pergunta de Jesus. Responde com humildade: “Tu sabes que Te amo”.
Durante todo o diálogo, Jesus não censura Pedro por O ter negado, não se detém a sublinhar o erro. Chega até ele descendo ao plano das suas possibilidades, leva-o ao centro da sua ferida, para a sarar com a Sua amizade. A única coisa que lhe pede é reconstruir o relacionamento entre eles, na confiança recíproca.
E de Pedro brota uma resposta que é um ato de reconhecimento da sua própria fraqueza e, ao mesmo tempo, de confiança ilimitada no amor acolhedor do seu Mestre e Senhor:
«Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo»
Também, a cada um de nós, Jesus faz a mesma pergunta: amas-me? Queres ser meu amigo?
Ele sabe tudo: conhece os talentos que Dele mesmo recebemos, como também as nossas fraquezas e feridas, por vezes a sangrar. Não obstante, renova a sua confiança, não nas nossas forças, mas na amizade com Ele.
Nesta amizade, Pedro encontraria também a coragem para testemunhar o amor por Jesus até dar a sua própria vida.
«Todos nós passamos por momentos de fraqueza, de frustração, de falta de coragem: […] adversidades, situações dolorosas, doenças, mortes, provas interiores, incompreensões, tentações, fracassos […] E há quem se sinta incapaz de ultrapassar certas provas que desabam sobre o físico e sobre a alma, e por isso já não pode contar com as suas forças, e fica na condição de confiar só em Deus. E Ele intervém, atraído por esta confiança. Onde Ele atua, faz coisas grandes, que parecem ainda maiores, precisamente porque brotam da nossa pequenez»[3].
Na vida quotidiana podemos apresentar-nos a Deus tal como somos e pedir a Sua amizade que cura. Neste abandono confiante na sua misericórdia, podemos regressar à intimidade com o Senhor e retomar o caminho com Ele.
«Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo»
Esta Palavra de vida pode tornar-se também uma oração pessoal, a nossa resposta para nos confiarmos a Deus, com as nossas poucas forças e agradecer-Lhe pelos sinais do Seu amor:
«[…] Amo-Te, Senhor, porque entraste na minha vida mais do que o ar nos meus pulmões, mais do que o sangue nas minhas veias. Entraste onde ninguém podia entrar, quando ninguém me podia ajudar, sempre que ninguém me podia consolar. […] Faz com que eu Te seja grata – ao menos um pouco – no tempo que me resta, por este amor que derramaste sobre mim, e me impeliu a dizer-Te: Amo-Te»[4].
Também nos nossos relacionamentos em família, na sociedade e na Igreja, podemos usar o estilo de Jesus: amar a todos, tomar a iniciativa de amar, “lavar os pés”[5] aos nossos irmãos, sobretudo aos mais pequenos e vulneráveis. Aprenderemos a aceitar cada um com humildade e paciência, sem julgar, estando disponíveis para pedir e receber o perdão, para compreender juntos como caminhar lado a lado na vida.
Texto preparado por Letizia Magri e pela equipa da Palavra de Vida
[1] Cf. Mt 16,18-19. [2] Jo 10,14. [3] C. Lubich, Palavra de vida de julho de 2000, in Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi, (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma, 2017, p. 629. [4] C. Lubich, «Gratidão», in Jesus Eucaristia, Cidade Nova, 2014, pp. 39-40. [5] Cf. Jo 13,14.