«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10,27)
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos[1] propõe este ano, como tema de reflexão, a frase acima referida que tem a sua origem no Antigo Testamento[2]. No seu caminho para Jerusalém, Jesus é interpelado por um doutor da Lei que lhe pergunta: “Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?”[3]. Abre-se assim um diálogo em que Jesus responde com outra pergunta: “O que está escrito na Lei?”[4], suscitando a resposta do seu interlocutor: o amor a Deus e o amor ao próximo, que no seu conjunto são considerados a síntese da Lei e dos Profetas.
«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo»
“E quem é o meu próximo?”, continua o doutor da Lei. O Mestre responde contando a parábola do Bom Samaritano. Ele não elenca as várias tipologias de pessoas que podem entrar na categoria de próximo, mas descreve a atitude de profunda compaixão que deve animar todas as nossas ações. Somos nós próprios que nos devemos tornar “próximos” dos outros.
A pergunta que nos temos de fazer é: “E eu, sou próximo de quem?”.
Precisamente como fez o Samaritano, é preciso cuidar dos irmãos cujas necessidades conhecemos. Deixarmo-nos envolver plenamente nas situações que se nos apresentam, sem qualquer temor. Ter um amor que procura ajudar, promover e encorajar a todos.
É preciso ver o outro como um outro eu, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós próprios. É a denominada “regra de ouro”, que encontramos em todas as religiões. Gandhi explica-a de um modo muito eficaz: «Tu e eu somos uma coisa só. Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim mesmo»[5].
«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo»
«Se nós ficarmos indiferentes ou resignados diante das necessidades do nosso próximo, quer no plano dos bens materiais quer nos bens espirituais, não podemos dizer que amamos o próximo como a nós mesmos. Não podemos dizer que o amamos como Jesus o amou. Numa comunidade, se quisermos inspirar-nos no amor que Jesus nos ensinou, não pode haver lugar para desigualdades, desníveis, marginalização, negligência. […] Enquanto virmos no nosso próximo um estranho, alguém que perturba a nossa tranquilidade, que transtorna os nossos projetos, não podemos dizer que amamos a Deus com todo o nosso coração»[6].
«Amarás o Senhor teu Deus… e o teu próximo como a ti mesmo»
A vida é aquilo que nos acontece no momento presente. Dar-nos conta de quem está ao nosso lado, saber escutar o outro pode abrir-nos sendas interessantes e suscitar iniciativas não previstas.
Foi o que aconteceu com a Victoria:
«Na igreja, fiquei tocada pela lindíssima voz de uma mulher africana sentada ao meu lado. Felicitei-a, encorajando-a a juntar-se ao coro da paróquia. Detivemo-nos a conversar. Era uma religiosa da Guiné Equatorial, de passagem por Madrid. No seu Instituto acolhem recém-nascidos, meninos e meninas abandonados, que acompanham até à idade adulta, facultando-lhes os estudos universitários ou uma via profissional. O atelier de costura funcionava bem, mas as máquinas não são suficientes.
Ofereci-me para a ajudar a encontrar outras máquinas, confiando em Jesus, na certeza que Ele nos escutava e me impelia a amar sem calculismos.
Um meu amigo conhecia um técnico nesta área, que ficou feliz por poder participar nesta cadeia de amor. Conseguiu disponibilizar e reparar oito máquinas de costura e ainda arranjou uma de passar a ferro. Um casal amigo ofereceu-se para as transportar até Madrid, mudando o destino dos seus dois dias de férias e percorrendo quase mil quilómetros. Assim, as “máquinas da esperança”, através de uma longa viagem por terra e por mar, chegaram a Malabo. Na Guiné ficaram maravilhados! As suas mensagens falam apenas de gratidão».
Texto preparado por Patrizia Mazzola e pela equipa da Palavra de Vida
[1] Esta celebra-se no hemisfério norte de 18 a 25 de janeiro e no hemisfério sul na semana de Pentecostes. Os textos da oração deste ano foram preparados por uma equipa ecuménica do Burkina Faso. [2] Cf. Dt 6,4-5 e Lv 19,18. [3] Lc 10,25. [4] Lc 10,26. [5] C. Lubich, A arte de amar, Cidade Nova, Abrigada 2007, p. 24. [6] C. Lubich, Palavra de Vida de novembro de 1985, em Parole di Vita, a/c Fabio Ciardi (Opere di Chiara Lubich 5), Città Nuova, Roma 2017, pp. 340-341.